"O Anarcocapitalismo está para o Anarquismo assim como Emo está para Punk"

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Li por aí a seguinte frase: "O Anarcocapitalismo está para o Anarquismo assim como Emo está para Punk"; e seu conteúdo traz a mais pura V E R D A D E!!

Para quem talvez não saiba muito bem, o chamado "anarcocapitalismo" é uma vertente de pensamento capitalista ao extremo que prega a absoluta não intervenção pública nas ações das corporações privadas, sejam essas ações da natureza que forem, até de "escravizar" os trabalhadores, sugando o máximo deles e oferecendo o mínimo do mínimo possível. Ou seja, é o "anarquismo" dos mega ricos e poderosos. Total inverso ao ideal anarquista – que inspirou o movimento punk – de agir contra essa classe de magnatas sanguessugas.

Essa vertente de pensamento ganhou muitos seguidores nos cursos de ciências humanas e econômicas de Harvard. Robert Nozick foi um professor desta universidade que escreveu um livro famoso sobre o assunto chamado "Anarquia, Estado e Utopia". Eu estudei esse livro numa disciplina de filosofia e política, é um livro que despreza totalmente qualquer direito social e coletivo. Para ele o Estado deve se limitar a um simples setor jurídico com função de  garantir a proteção ao acúmulo de propriedade por parte dos ricos e todo imposto ou qualquer outro tipo de intervenção pública com finalidade de garantir uma "função social da propriedade" seria uma forma de agressão e violência.  Por outro lado uma pessoa "aceitar" um trabalho em troca apenas de comida ou até menos que isso, é algo que eles entendem como "liberdade", afinal a tal pessoa também é livre para escolher simplesmente definhar de fome e nenhum Estado deve intervir nisso. Parece justo?... Claro que não!

O mais "curioso" é perceber uns fãs de um falso punk  que se diz "anarcocapitalista" (que, por meio da exploração comercial do punk, ganhou força principalmente a partir dos anos 2000) defendendo isso, e pior, pessoas pobres, da classe trabalhadora que não têm capital nem pra vender picolé na praia. São ingênuos úteis, iludidos que "ficando desse lado" vão ter chances de se tornarem Donald Trump ou Bill Gates. Percebo até que o mais difícil é convencer esses idiotas que eles são uns – com o perdão da palavra – fudidos que sustentam essa lógica perversa de escravidão moderna que, para conveniência dos grandes magnatas burgueses, está sendo confundida com uma ideia de liberdade. Os anarcocapitalistas usam exemplos de totalitarismos estatais para defender o totalitarismo dos grandes corporativistas e chamam isso de prática da liberdade.

Há um economista, o qual eu também chamo sem ressalvas de filósofo, chamado Amartya Sen que destrói completamente essas falácias dos anarcocapitalistas (também chamados de "libertários"). Amartya Sen é indiano e ganhou um nobel por suas ricas contribuições à economia do bem-estar. Este modelo de economia tem como base a ideia de que uma economia equilibrada deve prover o máximo de bem estar para todas que fazem parte dela. Ele contribuiu bastante com o desenvolvimento do que se chama de "teoria da decisão social". Pode-se dizer que ele defende que os seres humanos é que são o valor supremo num sistema econômico, porque a economia não existe para servir às coisas ou objetos materiais, mas sim às pessoas, a todas as pessoas. Há alguns livros dele muito interessantes traduzidos para o português e publicado pela Cia. das Letras: 
  • "Desenvolvimento como liberdade" → Aqui o autor se debruça sobre o desenvolvimento enquanto um processo de expansão das liberdades que as pessoas desfrutam. O objetivo do livro é fazer com que o leitor entenda a situação econômica e social de países pobres ou em desenvolvimento, como o Brasil, presente nas análises de Sen, que ilustra suas ideias com dados comparativos entre os diversos países;
  • "A ideia da justiça" → Neste trabalho, Amartya Sen explora com minúcia a teoria da justiça e propõe que se atente às necessidades e esperanças das pessoas reais, indicando o caminho para a redução das injustiças sociais e econômicas;
  • "As pessoas em primeiro lugar" → Este constitui um manifesto contra as desigualdades que afligem os países em desenvolvimento onde Amartya Sen concentra-se nas iniquidades que atingem os sistemas de segurança social da maioria dos países; 
  • "Sobre Ética e Economia" → Neste livro o  economista e filósofo indiano demonstra o quanto a ordem econômica diz respeito à moralidade e à justiça, enquanto as questões éticas vinculam-se também à lógica fria e à exequibilidade.
Tem também um de título "Identidade e Violência", cuja versão em e-book é gratuita (VER AQUI). Este sim é um autor que vale muito a leitura, principalmente para quem se interessa por política, economia, direitos sociais. 

Por Jacilene S. (Jurista e Filósofa, colaboradora da Bodega)

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